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Memórias do Campo | Frei Plácido Rohlf

Por: Luiz Dalla Libera
03/11/2020 10:26
Arquivo Paróquia São Luiz Gonzaga

No dia 29 de outubro de 1966, às 13h, pela primeira vez na Paróquia São Luiz Gonzaga, de Xaxim, que o sino deu as badaladas silenciosas anunciando a triste notícia da morte do baluarte inesquecível e saudoso Frei Plácido Rohlf. Ele foi o primeiro padre que faleceu em trabalho na paróquia de Xaxim, com a idade de 79 anos. Ele nasceu na cidade alemã de Laversum Haltern (Westphalen), em 12 de junho de 1887.

Em 1913, com 26 anos, veio para o Brasil, a fim de estudar no Colégio Franciscano de Blumenau (SC) e em 1916, ingressou no noviciado em Rodeio (SC), ordenando-se sacerdote em 1921. Desde a ordenação, dedicou-se à missão na região sul do país, no apostolado na Prelazia de Palmas (PR). Frei Plácido foi um grande homem na nossa região, o seu trabalho de missão iniciou-se, no início do século passado. Ele não procurava bens e nem bônus, mas sim os pobres esquecidos no sertão.

Suas viagens a cavalo, de Palmas até a fronteira do Oeste Catarinense, no limite da Argentina, duravam em média três a quatro meses neste trajeto. Só encontrava-se quarto para dormirem, camas. Em Xaxim, Plácido hospedou-se na casa de Silvio e Ambrosina Lunardi, onde rezavam os terços e as missas das primeiras eucaristias. Além de Xaxim, que o acolhiam nas casas, Chapecó, Marechal Bormann e Caxambu do Sul, nas outras noites, com frio ou chuva, dormiam no chão nos pelegos de suas montarias.

Frei Plácido foi o primeiro padre que exerceu o ministério de pároco na Paróquia Santo Antônio de Chapecó, nos anos de 1931 a 1933, embora sem ter residência fixa na cidade, ele continuava a missão. Também foi o segundo pároco de Xaxim, entre 1941 a 1945 e 1956 até a sua chamada na eternidade do dia 29 de outubro de 1966, onde ele trabalhou como coadjutor, ajudando o vigário. Nesses últimos 10 anos, há boas memórias de seu bom trabalho, deslocamento nas visitas às capelas, que aconteciam no lombo das mulas com sol, chuva e frio. Ao chegar nas igrejas, uma pessoa do conselho era encarregada de cuidar as mulas, tirar o arreamento, levar para beber água e alguém trazia algumas espigas de milho e um feixe de alfafa.

Na época, a missa era celebrada só de manhã, “tinha que ser em jejum”, ele dizia. “A mula podia comer e beber, o padre não podia”, ele complementava. Após a missa, tomava café na sacristia, uma família do conselho era a responsável do café. Naquele tempo, o Vaticano liberou a celebração da missa vespertina, bem no período em que o Frei Plácido não atuava em Xaxim, porém, quando o conselho do Vaticano deliberou a missa do latim para o português e cada país no seu idioma, Frei Plácido era o mais conservador, para ele foi custoso se adaptar, não pelo idioma, mas pela celebração ser muito diferente.

As famílias dele, tanto as missões em latim e português ou alemão, pregava-se só a palavra de Deus, porém ele dava bons ensinamentos em nossos trabalhos e boas opiniões. O sistema do seu país de origem era desenvolvido. Naquela época, quando os noivos se preparavam para o matrimonio, tinham que passar na secretaria da Paróquia para dar os nomes acompanhados dos pais, eram os padres que os atendiam. Quando era gente que trabalhava na lavoura, o Frei Plácido olhava as mãos do noivo, se as mãos eram brancas lisas e pele macia, o padre tinha pouca fé de um próspero futuro, o padre não falava nada. Por outro lado se o noivo tinha as mãos ásperas, calejadas e rachadas, o padre falava ao pai da noiva “o seu futuro genro nunca ele vai ir na sua casa pedir banha e outros alimentos emprestados”. Essas palavras foram ouvidas e esclarecidas da própria voz do Frei Plácido nas homiliazonas missas.

Na educação, ele colaborava, porém, também cobrava onde as salas de aula eram na igreja. Uma era na linha Limeira, ele cobrava dos poderes públicos e também dos pais dos alunos. Como a igreja era uma servidão para a escola, ao menos era para pagar o antigo quartel em dia era o dízimo de hoje. Como naquela época, a população de Xaxim era quase 100% católica, a construção do antigo Colégio Senador Vidal Ramos, hoje o EEB Neusa Massolini, não era público no início e a igreja fez muita promoção, Frei Plácido foi um ótimo colaborador em prol da construção do ginásio.

Um fato que aconteceu na década de 1960, eu penso e duvido que eu esteja errado, que não é real a data do Frei Plácido, a chegada da sua viagem de volta da Alemanha, que viveu apenas 19 dias e doente como consta no livro “Uma história de fé construída em mutirão”, na minha memória e recordação aos 22 anos, estou bem por dentro dos fatos acontecidos.

A viagem de volta da Alemanha aconteceu uns anos antes de sua morte. O mais comprovado é que os seus familiares pediram como ele ia fazer as visitas longe, ele dizia “vou com as mulas”. Os parentes fizeram um presente, juntaram um dinheiro e compraram um jipe. Como não era um carro macio e o padre sofria de uma hérnia, era muito pior andar de jipe do que o cavalo. Então, resolveram comprar um fusca, que era bem mais macio que o jipe.

Porém, também não deu certo e o padre era muito medroso para dirigir ele. Ele confiava mais nas mulas ligeiras do que no fusca macio. Ele continuou suas visitas a cavalo, estou bem de memória, mas nas missas, ele contava como era o sistema do trabalho na Alemanha, será que tudo aquilo aconteceu em apenas 19 dias?


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